quinta-feira, 4 de outubro de 2012


O Crime Do Padre Amaro

Após perder os pais, que serviram à marquesa de Alegros, Amaro cai nas graças da mulher, que o toma como agregado, planejando criá-lo para o sacerdócio. Isso acaba se efetivando, apesar da ausência de vocação e de interesse do jovem, que, desde cedo, possuía uma índole libidinosa. Triste e resignado, Amaro se ordena padre, sempre tentando conter os fortes impulsos sexuais que sente.
Embora temesse a Deus e fosse devoto, odeia a vida eclesiástica que lhe fora imposta. Depois de exercer seu ofício em uma província interiorana, consegue, por influência da condessa de Ribamar – filha de sua protetora, a marquesa –, mudar-se para Leiria.

Nesse ponto, Eça descreve como os interesses do clero estão atrelados aos interesses políticos. É o marido da condessa quem intervém junto a um ministro para solicitar ao bispo a transferência de Amaro, apesar de sua pouca idade, para a sede do bispado.

Em Leiria, o jovem padre aceita a sugestão do cônego Dias para morar em um quarto alugado na casa da senhora Joaneira – com quem Dias mantinha um caso –, auxiliando, em troca, nas despesas da casa. O quarto de Amaro fica exatamente embaixo do de Amélia, filha da dona da casa. Já no primeiro contato, Amaro e Amélia sentem forte atração mútua, que se desenvolve aos poucos e provoca o desinteresse da moça por João Eduardo, de quem era noiva.

O fato que desencadeia a ofensiva de Amaro sobre Amélia é algo que o jovem padre presencia: certo dia, ao chegar à residência da senhora Joaneira, encontra-a na cama com o cônego Dias. A partir daí, apesar de ter mudado de casa, Amaro vai perdendo os escrúpulos e se deixa levar pela atração sexual, seguindo o exemplo de seu antigo mestre.
O autor, além da crítica feroz que desfere contra o clero, toca também em outro tabu da época: a sexualidade.

É comum que os escritores vinculados à corrente naturalista, como era Eça na época em que escreveu esse romance, dêem ênfase ao erotismo que domina os personagens. Isso faz parte de sua caracterização, como apregoa o determinismo de Taine, segundo o qual os seres humanos são submetidos ao condicionamento pela herança, pelo meio social e pelo contexto histórico, que regem seu comportamento. Isso significa que, embora os personagens tentem, num primeiro momento, se prender a um padrão moral mediado pela consciência, acabam agindo pelos impulsos naturais de sobrevivência da espécie, principalmente o desejo sexual.

João Eduardo, enciumado, publica anonimamente no jornal local um artigo em que denuncia a imoralidade de alguns padres de Leiria, especialmente de Amaro. Esse fica indignado e passa a evitar Amélia — pensa até mesmo em abandonar o sacerdócio. No entanto, os padres descobrem o autor do texto polêmico e levam João Eduardo a deixar a cidade. 

Comentário Crítico
O romance de Eça de Queirós, escrito em 1875, é um velho conhecido dos vestibulandos. É também um belo livro, que se posiciona contra o celibato imposto aos padres e expõe a paixão que um jovem pároco sente por uma moça. Só que, no romance, uma das idéias mais fortes está no prazer que o padre tem em dominar sua amada. Ele, que passou toda sua vida baixando a cabeça e cumprindo ordens, pode controlar alguém pela primeira vez. No filme, esse contexto desaparece completamente. Ademais, no livro, a moça é corroída pela culpa, tem pesadelos, visões, imagina que arderá no fogo do inferno. Na versão cinematográfica, ela é bem mais nova e sem a menor consciência.

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